BREXIT: CAINDO A FICHA

Por 30 de junho de 2016

Glauco Arbix

As primeiras pesquisas já captaram frustração e arrependimento de parte significativa de cidadãos britânicos que votaram pela saída do bloco europeu. Para as startups e empresas de base tecnológica no Reino Unido, as consequências já se prenunciam graves.

Empresas de micro eletrônica e comunicação dão como certo o aumento de dificuldades no médio prazo para contratação de pesquisadores e engenheiros qualificados. Os reiterados sinais, pré e pós referendo, indicam maior rigidez nas regras que balizam o fluxo de migrantes.

Na campanha, aqueles que defendiam o rompimento com a União Europeia (UE) afirmavam que os três milhões de cidadãos europeus que vivem no Reino Unido não seriam ameaçados com a saída do bloco nem por novas regras.

Para os que buscavam a permanência na UE, todos os residentes europeus perderiam automaticamente seus direitos de circulação, de trabalho, de empreender, tornar-se proprietário e de acessar os serviços públicos de Saúde e Educação. Estariam obrigados a enfrentar novas barreiras, permissões, filtros e burocracia. Essas afirmações estavam – e continuam – baseadas no forte viés anti-migração que marcou a campanha pelo Brexit. “Não há garantias”, afirmou Sionaidh Douglas-Scott, professor de Direito da Queen Mary University de Londres, pois se “alguém deixa a UE, deixa também de ser membro do clube que garante esses direitos”.

Mesmo com a expectativa de que esses direitos não desaparecerão do dia para noite, o Fórum das Corporações de Tecnologias da Informação (CITF), que congrega as 250 maiores empresas do Reino Unido, declarou-se preocupado com a incerteza reinante, uma vez que poderia aumentar ainda mais a já baixa oferta de pessoal qualificado.

A imprensa britânica, como o Financial Times, alerta que vários fundos de investimento em Venture Capital avaliam a oportunidade de interromper o investimento no robusto mercado britânico de empresas nascentes de tecnologia.

O setor de comércio está em choque com a saída da UE. Na campanha, defensores do Brexit declaravam que um novo acordo comercial deveria ser construído entre o Reino Unido e a UE até 2020. Até esse acordo, o comércio estará debaixo das regras da Organização Mundial do Comércio, com taxas e tarifas diferentes – e maiores – do que as atuais. O Reino Unido já iniciou a renegociação dos cerca de 50 acordos de livre-comércio que regulamentam as relações com a UE e com países como o Canadá e Coréia. Quanto mais fora do bloco europeu, maiores serão as dificuldades para se reorganizar o sistema de comércio, uma situação que o Brasil viverá rapidamente.

Em outra nota, alertei para as perdas que o Reino Unido terá no financiamento de suas pesquisas científicas e tecnológicas, mas as perspectivas pós decisão de ruptura, apenas aumentaram as cifras e os impactos estimados originalmente. Para empresas de tecnologia, dados e fluxos de informação são essenciais. A ruptura questiona a participação do Reino Unido nos acordos atuais e dificulta a sua participação no novo General Data Protection Regulation (GDPR), a ser acordado até 2018.

A realidade ainda está muito tensionada pelo calor dos debates e impacto da decisão. Isso significa que o debate ainda guarda tom de ameaça, exagero e de ressentimento. O assentamento dos ânimos possibilitará análises e comentários menos empolgados. A certeza, porém, é que o Reino Unido viverá momentos de excepcional dificuldade. O que certamente trará consequências indesejadas para todos.

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