A HISTÓRIA QUE O BRASIL NÃO CONSEGUE ESCREVER

Por 7 de outubro de 2016

Lucas Carvalho

Visto de fora, o Brasil surge dono de uma cultura alegre e vibrante. Pouco se fala, porém, a respeito da sua cultura cientifica, seus inventos e inventores, suas tecnologias. Alguns poderiam pensar que não se pode falar do que não existe. Ou que fatos e nomes seriam de baixa relevância, certo? Errado. O Brasil criou homens e mulheres notáveis cujas descobertas influenciaram o progresso da humanidade. Uma atitude mais sensata é admitir que parte deste silêncio encontra explicação em nosso desconhecimento. Ou na dificuldade que o Brasil teria em difundir seus feitos, mais na linha Nelson Rodrigues, que sempre apontava a síndrome de vira-lata.

A ciência brasileira é recente. Como atividade profissional ainda nem chegou a se massificar. A internacionalização de nossas universidades e centros de pesquisa está ainda em sua infância. E a atividade científica nem sempre recebe o reconhecimento que merece, seja de políticos, autoridades ou planejadores. Às vezes nem mesmo de seus pares, os pesquisadores. Temas polêmicos, sem dúvida. O que é certo, no entanto, é que nossa história científica é frágil e nem mesmo chegou a criar tradição, escolas ou correntes.

escrever_livroescrever_livroNão se trata somente de invocar o nome de Santos Dumont. Mas de colocar no lugar certo gente como César Lattes, físico que comprovou a existência da partícula subatômica méson pi. Ou Carlos Chagas, responsável por identificar todo o ciclo da doença Mal de Chagas. Ou ainda dos pesquisadores que participam e mesmo sustentam pesquisas internacionais. Sem esquecer, claro, nomes que deveriam ser lembrados, a exemplo do padre paraibano Francisco João de Azevedo, responsável por descobrir como mecanizar a escrita.
Sua trajetória foi resgatada por Rodrigo Moura Visori, no livro “Francisco João de Azevedo e a Invenção da Máquina de Escrever” (Editora Tamanduá Arte). O livro não repercutiu o suficiente para substituir os americanos como os inventores da máquina de escrever, que lançaram o primeiro modelo, Remington, em 1874.

Na verdade, anos antes, em 1861, o padre inventor já havia descoberto a mecanização da escrita. O invento de Francisco não se parecia em nada com a máquina de escrever que o mundo veio a conhecer. Parecia mais um piano com pedal e dezesseis teclas que, combinadas, produziam textos. O nome de batismo foi máquina taquigráfica.

O livro de Visori narra as desventuras do inventor que insiste por toda uma vida na transformação de suas ideias em uma máquina até então inexistente. E fez isso sem apoio e amparo nem público ou privado. O resultado final deixou como legado um leve sabor de fracasso, já que sua invenção terminou no esquecimento, como tantas outras. É um pouco o retrato de um Brasil que, muitas vezes, não sabe contar sua própria história.

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