A VIDA É MELHOR NAS CIDADES QUE INOVAM

Por 7 de julho de 2017Destaque, Highlights, Pesquisa

Glauco Arbix

A PwC (PriceWaterhouseCoopers) acaba de divulgar ranking das cidades mais aptas a absorver inovações e novas tecnologias. Singapura ficou em primeiro lugar, com 62% das preferências. Foi seguida por Londres (59%), Shanghai (55%), Nova Iorque (53%) e Moscou (53%). A pesquisa, com 1.500 entrevistados em 10 cidades globais, abordou tanto as condições que as cidades têm de abraçar tecnologias avançadas, mas também as dispostas a internalizar práticas e soluções mais maduras e consolidadas.

O índice, como todo experimento desse tipo, comporta inclinações e imprecisões típicas das pesquisas de percepção. Mas funciona também como termômetro de tendências, que alertam autoridades, acadêmicos e empresas sobre deficiências e gargalos existentes em grandes aglomerações, como São Paulo ou Rio de Janeiro.

Há muito que as cidades se transformaram em fortes concentrações dinamizadoras das economias. Há países em que se tornaram imprescindíveis referências, como Barcelona para o turismo espanhol ou Londres para todo o sistema de transporte do Reino Unido.

Cada vez mais as cidades são chamadas a estruturar e diversificar seus sistemas de inovação, de modo a facilitar a difusão de tecnologias e, com isso, irrigar a economia, gerar bons empregos e melhorar a vida de sua população. Leis apropriadas, regras e normas desburocratizadas, assim como a presença de agências especializadas ajudam a melhorar o ambiente de negócios e a estimular a geração e implantação de inovações em todas as dimensões da vida urbana.

Mais ainda, a procura constante pela renovação das cidades atrai e retém gente qualificada, estimula as sinergias entre os centros de pesquisa com o universo das empresas e pode contribuir para a ampliação e (re)apropriação do espaço público, hoje povoado por sistemas de transporte, equipamentos culturais, parques e serviços de baixa qualidade.

São Paulo, que não fez parte da pesquisa da PwC, continua na fila para integrar o ranking das cidades globais mais predispostas à inovação. Lembrem-se que tolerância, preconceito e a abertura para o novo fazem parte dessa modalidade de aferição, ao lado do nível de digitalização da economia, da melhoria das escolas e dos sistemas de saúde, da queda nos indicadores de segurança, do avanço dos transportes e da infraestrutura.

No fundo, o que esses rankings sugerem é que para se viver melhor nas grandes cidades é preciso não perder de vista a diversidade da vida econômica, componentes da nossa cultura e sociedade. Essa visão de conjunto nos impede de esquecer as desigualdades, pobreza e contrastes que marcam as grandes cidades. Em outras palavras, é impossível que a inovação floresça sem respeito entre as pessoas e avanços efetivos nos padrões de civilização.

São Paulo nunca teve em sua história um projeto articulado para se construir como uma cidade inovadora. No melhor dos casos, viveu de espasmos de modernização, ainda que, em alguns casos, importantes.

O ambiente tóxico que envolve o país dificulta o encontro de soluções. Mas, desde que não sejam de ocasião, cosméticas ou voltadas para o calendário eleitoral, sempre há tempo e inteligência disponíveis para se pensar em construir de modo diferente nossa cidade e nosso futuro.

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