Desde que a chinesa Midea ofereceu 4,5 bilhões de euros para controlar uma das mais avançadas empresas de robótica da Alemanha, o sono de governantes em Berlin e Bruxelas não tem sido muito tranquilo.
A Kuka, que responde por robôs de última geração utilizados pela BMW e Audi, assim como pela americana Boeing, está sob forte pressão da gigante chinesa de eletrodomésticos, a Midea.
O medo dos europeus e americanos é compreensível. Se realizada, a aquisição de uma das empresas alemãs mais inovadoras representaria o controle chinês de tecnologias críticas, que estão na base da estratégia alemã para manter sua liderança mundial com a plataforma chamada Indústria 4.0.
A Kuka lidera segmentos que caminham aceleradamente para a digitalização dos processos industriais e que têm no horizonte a automação completa das fábricas.
O incômodo do governo de Angela Merkel é profundo e repercute em toda a Europa. Para desfazer a ameaça à sua engenharia, o governo alemão procura estimular a formação de consórcios de empresas europeias para obstruir os passos da Midea. O espectro de que carros e aviões do futuro deixem de ser símbolos de Stuttgart ou Wolfsburg e adquiram sotaque mandarim é mobilizador de governos, parlamentos e industriais.
No Brasil de hoje, é possível que esse tipo de comportamento das autoridades públicas e privadas alemãs pudesse ser tomado como uma interferência indevida do Estado no livre jogo do mercado.
Enquanto nosso país procura respostas mais claras sobre o que pode ou não fazer, alemães, europeus e chineses se utilizam todo seu arsenal para, de um lado, adquirir (e assim viabilizar saltos de qualidade) ou blindar seus ativos tecnológicos (e assim preservar seus segredos fonte de competitividade).
Bem que os industriais brasileiros poderiam assumir comportamento mais pragmático, encontrável até mesmo em manuais de sobrevivência, para buscar, sem exagero, algum negócio da China, ou melhor, do tipo que as empresas chinesas procuram.
A internacionalização de nossas empresas seria uma iniciativa inteligente (e não muito cara, dado o preço que a economia paga e vai pagar pela crise profunda da nossa indústria) para começar a preparar as mudanças que nosso parque produtivo precisa urgentemente fazer.
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