Inteligência Artificial e Trabalho: os Desafios à Educação pelas Novas Interfaces Humanos-Máquina

Por 27 de outubro de 2021Destaque, discussao

Mesa redonda

Os Desafios Impostos à Educação pelas Novas Interfaces Homem-Máquina”

Em evento organizado pelo C4AI, pesquisadores debateram o futuro do trabalho, educação, e a formação da mão de obra em um contexto de IA (18out). Para eles, o investimento em treinamento continuado na formação de docentes é essencial.

 

Por Pedro Vivas (Pesquisador de iniciação científica em Sociologia) e Rodrigo Brandão (Coordenador do OIC e pesquisador da área de Humanidade do C4AI USP-FAPESP-IBM)

 

A área de Humanidades do C4AI – Center for Artificial Intelligence (parceria USP-FAPESP-IBM) promoveu, no dia 18 de outubro de 2021, mais uma mesa redonda preparatória para o “I Seminário Internacional Inteligência Artificial: Democracia e Impactos Sociais”.

Desta vez, o evento teve como temática “Os Desafios Impostos à Educação pelas Novas Interfaces Homem-Máquina”, contando com a participação de Ibrahim Kushchu, fundador da consultoria The Next Minds, e de Alexandre Le Voci Sayad, CEO e fundador da ZeitGeist e membro do conselho da GAPMIL (Aliança Global em Mídia e Educação) da UNESCO internacional. A moderação ficou por conta da professora Dora Kaufman (PUC-SP).

O evento teve como um de seus objetivos ir além dos debates mais usuais sobre Inteligência Artificial (IA) e trabalho, que costumam focar no deslocamento do trabalhador humano deixando de lado um aspecto importante: a necessidade de alfabetizar trabalhadores e profissionais nas tecnologias de IA, para que sejam capazes de lidar com as novas interfaces homem-máquina e os avanços tecnológicos e produtivos.

O primeiro a apresentar foi Ibrahim Kuschchu, que destacou a tendência de uso cada vez mais intenso de dados no sistema produtivo, além da integração em curso entre humanos e sistemas de inteligência artificial, com interfaces que visam até mesmo conectar o cérebro às máquinas – embora em estágios ainda iniciais. Tecnologias que revolucionam os campos cognitivos e produtivos e produzem uma disrupção, o que inevitavelmente tem consequências imprevisíveis.

Com a imprevisibilidade, vem também os riscos dos processos em curso. O pesquisador ressaltou, nesse sentido, a questão da desigualdade. A IA no setor produtivo irá aumentar ou reduzir a distância entre as camadas mais ricas e pobres da sociedade? Para responder a essa questão, Kuschchu afirmou que é necessário levar em consideração dois fatores: propriedade e memória. “Propriedade é quem detém as tecnologias de IA e memória é quem detém os dados […] até o momento, infelizmente, a tecnologia é de propriedade de países desenvolvidos ou gigantes tech, assim como os dados”, destacou.

No que se relaciona mais diretamente ao futuro do trabalho e educação, o pesquisador destacou que a carreira em inteligência artificial não é mais exclusividade das engenharias. “Precisamos de especialistas que entendam inteligência artificial. Biólogos, físicos, sociólogos e psicólogos são necessários.”, enfatizou.

Nessa mesma linha, Alexandre Le Voci Sayad destacou que, no caso específico dos professores, a necessidade de incorporar questões relacionadas à inteligência artificial não seria algo para o futuro, mas sim um desafio que já se faz presente no momento atual, e que demanda uma abordagem interdisciplinar. Para chegar até essas conclusões centrais, Sayad optou por fazer um cuidadoso debate teórico sobre as intersecções entre mídia, educação e IA.

Segundo ele, no plano mais geral do mercado, o grande desafio formativo para as empresas não seria necessariamente o aspecto técnico dos profissionais, que pode ser resolvido com cursos, mas sim o aspecto humano, o senso crítico, indispensável para o profissional do futuro e de mais difícil construção – muitas vezes a base disso estaria no ensino básico.

“O ensino técnico e médio no mundo estão se aproximando […] soft skills (habilidades socioemocionais) estão sendo muito demandados junto com os hard skills. O currículo antigo foca em conteúdo, que não são nem soft skills nem hard skills, estão muito mais ligados a memorização do que ao desenvolvimento de habilidades.”, criticou Sayad.

O pesquisador também pontuou que outras experiências internacionais já têm trazido uma matriz de ensino técnico mais ampla. Aliado a reformas no ensino técnico e básico, também seria essencial pensar em políticas de lifelong learning ou, em outras palavras, em políticas de treinamento continuado.

Alexandre – e também Dora Kaufman – citaram, nessa linha, a experiência da União Europeia, que desde 2013 já discute e implementa políticas relacionadas ao tema, com verbas, formação de mentores e fornecimento de conteúdo. “Isso se chama política pública!”, pontuou Dora. Tanto Sayad quanto Kaufman convergiram na conclusão de que o financiamento na formação de docentes é essencial e sem isso no horizonte, qualquer política estaria seriamente prejudicada.

“Agilidade curricular e lifelong learning são dois pontos chave para o tempo em que vivemos”, concluiu Alexandre.

O I Seminário Internacional Inteligência Artificial: Democracia e Impactos Sociais, será realizado em 13 e 14 dezembro de 2021 e está sendo organizado pela área de Humanidades do C4AI – Center for Artificial Intelligence. Esse, certamente, é um dos temas centrais que estarão presentes nas discussões do evento. Confira mais detalhes sobre esse e outros temas em: http://hseminar.webhostusp.sti.usp.br/2021/?lang=pt

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