GOVERNO AMERICANO DEBATE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Por 4 de julho de 2016

Lucas Carvalho – Pesquisador Usp-CEBRAP

O governo americano está cada vez mais empenhado em melhorar as condições para o desenvolvimento do conjunto de tecnologias que se abrigam debaixo do selo Inteligência Artificial (IA). No final do mês passado o Office of Science and Technology Policy, que assessora diretamente o Presidente da República, e a Washington University realizaram um workshop aberto ao público sobre IA. Especialistas renomados da academia e setor empresarial somaram-se a planejadores públicos para avaliar os impactos da IA na sociedade e definir os meios para facilitar seu desenvolvimento.

Uma das principais questões discutidas foi a desmistificação da IA, que pouco tem a ver com ficções científicas hollywoodianas sobre robôs autônomos, orientados para subjugar a humanidade. O fato é que não existem máquinas com inteligência e autonomia suficientes para tal. A busca, patrocinada pelo governo americano, é de aprimoramento da IA, que tem potencial para melhorar a qualidade de vida das pessoas e trazer benefícios para o mundo humano, como a melhoria de processos de fabricação, a diminuição do consumo de energia e a formulação de medicamentos mais precisos e personalizados.

O princípio básico é que a IA deve se voltar para uma relação de colaboração entre o homem e a máquina, com a máquina sob o controle do homem. Exatamente por isso, o pontos centrais da discussão, referiram-se a quem detém e controla essa tecnologia, como são coletados os dados que informam os sistemas avançados e como será o uso dessas informações. O governo está preocupado com as salvaguardas e a privacidade dos cidadãos, de modo que não tenham suas vidas devassadas por empresas ou sistemas inteligentes.
Em meio às discussões realizadas na Universidade de Washington, fica claro que as respostas ainda estão sendo buscadas. Não apenas pelo setor público, como também pelo setor privado, uma vez que grandes empresas, como Google e Facebook, detêm um mar de dados de pessoas de todas as partes do mundo.

O workshop realçou a necessidade de uma ampla discussão sobre uma nova ética a partir dos sistemas de IA. Mais ainda, o debate fez um alerta para possíveis impactos sociais negativos, como a extinção de empregos ou mesmo a substituição abrupta de algumas categorias de profissões. Na mesma direção, tornou-se flagrante a urgência de procedimentos que diminuam os riscos à segurança das pessoas pelo uso máquinas inteligentes, como carros e drones; ou então, riscos de eventuais erros na tomada de decisão por conta de cálculos imprecisos.
Porém, como se antecipar e regulamentar mudanças na legislação e mesmo nos hábitos culturais se ainda não se sabe ao certo como a IA funciona? Essa e outras dúvidas estiveram presentes no diálogo patrocinado pelo governo americano que se coloca na vanguarda dessa discussão fundamental para antecipar eventuais efeitos negativos colocados pelo desenvolvimento tecnológico.

Pesquisador Usp-CEBRAP e aluno das Ciências Sociais – USP
Email: lucas.monteiro.carvalho@usp.br

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