Desburocratização, mudança no sistema de financiamento e retomada de programas podem renovar as energias
As crises fazem aflorar o pior e o melhor das sociedades. Mas nem sempre é fácil identificar, em meio à poeira corrosiva das críticas e ao ruído da desinformação, questões-chave que travam o país.
Não há país forte, capaz de elevar de modo duradouro o padrão de vida de sua população, sem uma indústria apta a competir no cenário internacional e de oferecer bens e empregos de qualidade, que dinamizam a economia e sustentam o crescimento.
Apesar dos esforços, a realidade da nossa indústria é crítica. Iniciativas recentes para dinamizar o sistema produtivo combinaram estímulos reais com medidas desajeitadas, com resultados contraditórios e insuficientes.
Não há mágica nem receita. E é bom explicitar que o baixo desempenho industrial tem fontes circunstanciais, mas, essencialmente, alimenta-se de vícios estruturais. Décadas de protecionismo e uma economia fechada dificultaram o florescimento de uma cultura empresarial avançada, com boa gestão, tecnologia e inovação.
O Brasil ficou distante das grandes transformações do século 20. Se não corrigirmos a rota, de modo a ajudar a indústria a se remodelar, a ciência e a tecnologia a desabrocharem e a inovação a se enraizar no coração das empresas, correremos o risco de estagnar às margens do século.
Os poucos países que se desenvolveram construíram uma base de infraestrutura, massificaram a educação e investiram em ciência e tecnologia. O mundo mudou e o conhecimento tornou-se peça-chave para qualquer projeto nacional de futuro.
A indústria não pode mais se contentar com mudanças cosméticas. O surgimento de um mercado de consumo de massa é o substrato para novas iniciativas, públicas e privadas, de aumento de produtividade. E a disputa pelo mercado global exigirá que as empresas mexam em seu DNA e reorientem suas estratégias para acompanhar a revolução da manufatura. Para isso, é preciso uma economia amigável à inovação.
O país tem muito a consertar, mas não perdeu a bússola. Em meio à crise, a celebração de um grande acordo pela produtividade pode renovar as energias. Um esforço desse calibre permitiria a retomada de programas positivos –como o Plano Inova Empresa– e a revisão do que não deu certo no Brasil Maior.
Ensejaria uma redefinição do sistema de financiamento, que mostra-se esgotado e insuficiente para apoiar a pesquisa e as empresas a entrarem nas áreas de maior risco tecnológico.
Esse acordo poderia retomar o Programa de Plataformas do Conhecimento, anunciado em 2014, em áreas críticas de saúde, energia, agricultura e manufatura avançada, com o objetivo de diminuir pela metade a distância que separa o Brasil da fronteira do conhecimento em dez anos. E, por fim, iniciar um programa de desburocratização das instituições e das agências públicas.
O Brasil pode e deve acelerar para aproveitar as oportunidades abertas pela crise.
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